21 de setembro de 2016

Alzheimer todos os dias

Dizem que hoje é dia do Alzheimer. Dia que não precisa de ser lembrado como tantos outros...talvez seja necessário lembrar à própria pessoa que padece da doença devido ao esquecimento característico, mas quem cuida, seja familiar ou não, nunca esquece. 
É complicado cuidar de quem sofre de demência - Alzheimer ou não. O esquecimento, a perda de capacidades, a agressividade, a pacividade, nunca se sabe bem com o que contar. 
Neste momento o meu avô está acamado e supostamente com Alzheimer, consequência de dois AVC's, um isquémico e outro hemorrágico. Digo supostamente porque não sei até que ponto não é "apenas" demência dado ter sido consequência dos AVC's. No entanto as características mantêm-se, tanto está calmo, a dormir, como está a barafustar, a querer sair da cama, a pedir roupa, a querer ir embora. Tanto reconhece as pessoas como não...já chegou a perguntar à minha mãe se ia visitar o pai dela. É este não reconhecer que me magoa mais. 
Para ele, quando está lúcido, que são poucas vezes, percebo que seja difícil ter chegado "aquele ponto", estar num local onde não queria estar, longe do local onde nasceu e sempre viveu. Depois penso que na maioria das vezes ele não sabe bem onde está... 
Do outro lado temos a minha avó, que está 24 horas por dia com ele e não o larga por nada, a minha tia, que mal ou bem lá está a tomar conta dele, a minha mãe, eu própria. Nós temos que ver aquele homem que em tempos era alguém cheio de energia, que não parava quieto, forte, transformado em alguém acamado, sem vida praticamente, que precisa de ajuda para tudo. 
Aquele homem em tempos forte, transformou - se em alguém magro, com um olhar triste. Eu vejo que é o meu avô pelo olhar...simplesmente pelo olhar doce que tem. Quantas vezes não sabe quem eu sou. Quantas vezes está a dormir tardes inteiras  e outras a berrar porque quer ir embora. Os AVC's tiraram - lhe a vida, mesmo que continue a viver. Não estou a ser insensível, não estou a dizer que preferia que tivesse morrido ou algo assim, simplesmente estou a dizer que não vejo naquele homem sempre o meu avô. Aquele avô que tinha sempre um abraço e um beijo para a sua netinha. Aquele avô que telefonava quase todos os dias para saber como estávamos  (e nós para saber como eles estavam). Aquele avô que fazia tudo, que se desenrascava mesmo vivendo numa zona rural onde não há nada, fosse medicação, fosse comprar um telemóvel sem avisar ninguém, colocar tv por cabo, etc. Aquele avô que escrevia com letra ainda meia à primária (e que eu considerava das letras mais bonitas que já tinha visto). Aquele avô que contava histórias de tempos antigos, que pegava comigo por causa do F.C.Porto. Esse avô não é aquele. Já não faz nada disto. Aquele é outro avô, continua a ser meu, ele está lá, basta ver o olhar, mas de forma diferente. 
Porque tinha de acontecer a ele? Porquê ele ficar como está?  Ninguém merece ficar doente, demente,  perder as capacidades cognitivas, esquecer os seus. Porém ele não merecia mesmo...

Que todos os que cuidam de pessoas com demência, Alzheimer ou não, sejam homenageados todos os dias, não apenas quando existe um dia para tal...

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