26 de março de 2014

Deus e eu

Nestas últimas semanas tenha falado/ouvido falar sobre religião, primeiro num post do Rui, depois em conversa com a Sibilla. E claro que fiquei a pensar em como me relaciono com a religião - no meu caso católica. 
Fui baptizada em bebé porque os meus pais assim quiseram. Fui para a catequese pela mesma razão. Aí começou verdadeiramente a minha relação com Jesus, Deus, igreja, etc. Fiz a primeira e segunda comunhões e, quando muitos resolveram sair, continuei. Continuei porque "sou do contra", porque gostava do ambiente e das pessoas, não me sentia mal. Os anos que se seguiram, especialmente 7º ano, devem ter sido dos melhores a nível de catequese. Os temas tratados eram "temas normais", temas que todos os jovens queriam discutir, mesmo que houvesse sempre algo religioso no início ou no fim da sessão. Claro que depois havia missa, mas não via aquilo como uma seca, algo chato. 
Os últimos anos de catequese, já não era catequese. Iniciou-se o jornal da catequese e escrevia artigos relacionados com a história, outras religiões, símbolos, curiosidades, o que envolvia alguma pesquisa e eu gostava daquilo. Nesta altura comecei também a ajudar uma amiga que já dava catequese quando estava sozinha, tanto na catequese como na missa com os miúdos. E por ter gostado deste relacionar com as crianças e porque era uma transição lógica, resolvi arriscar e dar catequese juntamente com dois amigos. 
Foram dois anos a dar catequese. Ao mesmo tempo foi criado um grupo de jovens e mais uma vez, sendo lógico, integrei-o. Este grupo em nada tinha a ver com os últimos anos da catequese (como pensei que fosse), era mais religioso por assim dizer, apesar de momentos de interacção com a comunidade e outros grupos/paróquias interessantes. Hoje em dia percebo que a culpa da "religião extra" era de quem estava a frente do grupo e que nós, jovens, os víamos como exemplos e por isso fomos deixando andar. Apesar de ter algumas pessoas fixas, era um entrar e sair de outros jovens que iam experimentar mas depois ou não podiam/queriam e sobrava sempre para os mesmos. 
Quando entrei para a faculdade queria encontrar um trabalho ao fim de semana e, por não querer começar um ano e não o acabar, deixei a catequese. O grupo de jovens, se não me engano, também acabou nesse verão - muitas pessoas a sair, tanto jovens como responsáveis. E eu deixei por completo a igreja. Rompi relações com tudo. Não houve mais missas (uma ou outra, em ocasiões muito excepcionais). Não houve mais rezas, agradecimentos, pedidos. Não houve mais nada. 

Devido a coisas que aconteceram (e que não interessam, já estão e muito bem no passado) o Deus que tanto ajuda, que tanto bem faz às pessoas, penso que se chateou comigo. De bom ou proveitoso pouco recebi. Recebi umas boas lições que me tornaram na pessoa que sou hoje e percebi que nem sempre o que pedidos é o que recebemos. 
Passei de catequista, pessoa que ia à missa e comungava todas as semanas, a uma pessoa amarga no que à religião diz respeito. Quando acontece de ir à missa já não comungo. Os sermões são ouvidos de outra perspectiva - da perspectiva de alguém que sabe que muitos dos que apregoam não o cumprem. 
Não me sinto propriamente mal com este corte. Contudo sinto que tenho algo a resolver com a igreja. 
A ideia de ter, por exemplo, um padre à minha disposição para conversar, uma conversa frontal, directa e sem rodeios agrada-me. Mas ainda não procurei nem encontrei um padre para isso. Não quero um "mais velho", que normalmente têm uma mentalidade um pouco retrógrada em certos aspectos (exemplo dos dois padres que serviram na paróquia enquanto lá andei). Será esta a maior dificuldade para mim, encontrar alguém disposto a ver o "lado negro", para eu conseguir resolver tudo. 

Ultimamente vejo as coisas pelo lado científico. Se não tentar, não terei. As coisas não me vão aparecer à minha frente por obra de um Deus. 

11 comentários:

  1. Revi-me em alguns pontos.
    Também fui baptizada (com um ano), também fiz tudo o que havia para fazer na igreja (só deixei o crisma e o casamento xD), e a determinada altura, por ter uma consciência maior da realidade à minha volta, ou fosse pelo que fosse - já foi há muitos anos e agora não me lembro exactamente porque tomei aquela decisão - um dia disse em casa que não queria voltar à catequese, que não me sentia bem a ir à missa, que aquilo já não me fazia sentido nenhum. Ninguém me contrariou e, como tu - mas bem mais nova - desliguei de tudo o que à religião dizia respeito. Entro em igrejas em casamentos, baptizados, promessas de escuteiros dos primos e por aí fora, mas entro lá como se as cerimónias fossem noutro sitio qualquer... sem nenhum sentido ou sentimento no acto, entendes?

    Actualmente, a minha avó é acérrima defensora de Jesus, Deus e sua familia e ideais, e muitas vezes entramos em conflito porque eu pura e simplesmente não me revejo em nada do que eles dizem ser verdade.
    Para resumir: há muitos anos que sou do "ver para crer", e deus nunca o vi.

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    1. Entendo perfeitamente. As últimas missas que fui tinham a ver com funerais e na última lembro-me de estar a ouvir o padre a falar e a ter uma opinião contrária ao que ele dizia (já não me lembro do que falava concretamente, mas a sensação de não concordar está na minha memória).

      Ainda fiz o crisma, no meio desta história toda. E até gostei da preparação para tal, umas reuniões onde aprendíamos e falávamos, pessoas de diferentes idades (mais ou menos) e experiências diferentes. Depois de me afastar ainda fui madrinha de crisma de uma prima.

      Das coisas que mais me chocou/levou a afastar-me foi, para além das complicações logísticas onde por vezes nem havia razões para tal na minha forma de ver, o facto de quem apregoa as boas acções, não mentir, aquelas coisas todas (e aqui não falo apenas de padres, mas de quem está também muito activo na igreja e é visto por muitos como um exemplo) e depois não cumpre.

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  2. Não sou crente. Respeito quem o é, mas irrita-me profundamente ouvir certos comentários tão mas tão retrógrados das pessoas em defesa da sua religião. Além de ser uma das maiores causadoras de guerras e mortes, impede que as mentes evoluam, porque sim, a Religião está escrita e nem mesmo com um Papa mais revolucionário, ela irá evoluir. Será sempre um muro inultrapassável para a liberdade de escolhas de todos, mas o que ainda me tira mais do sério são aqueles falsos moralistas que se dizem religiosos, mas nem sequer sabem o que implica ser cristão e por trás executam montes de actos e atitudes que vão completamente contra a Religião que dizem seguir. Já dizia Kant " A religião é o ópio do povo (…)" e de facto tenho que concordar que na minha opinião, ela funciona como um tipo de droga que permite amenizar o sofrimento e ajudar a ultrapassar as situações mais difíceis da vida, na minha perspectiva para as pessoas fracas de espírito. Sei mais de Cristianismo do que muitos "obcecados" e é por investigar e procurar respostas que de facto tudo o que gira à volta disto me revolta (Vaticano, abusos sexuais, corrupção...) mas isso talvez fique para outra altura! :)

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    1. Conheci um falso moralista que falas e em parte foi a causa do meu corte com tudo o que tenha a ver com religião.

      Quando achares que a outra altura chegar, está à vontade :)

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  3. foi interessante ver o teu percurso religioso, a vida vai nos fazendo mudar de opinião por diversas vezes. confesso que sou ateu mas gosto imenso de ler opiniões contrárias é sempre uma belíssima forma de debate :)

    http://ummarderecordacoes.blogs.sapo.pt/

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    1. Acima de tudo, cresci! Uma pessoa mesmo não concordando tem de saber ouvir o outro lado e isso também gosto de fazer.

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  4. Também tive uma educação católica (baptismo, 1ª comunhão, por aí), mas cedo me desliguei. Quando comecei a ver o mundo com outros olhos, percebi que não me identificava com nada daquilo, e esse corte ocorreu cedo (12/13 anos talvez). Não sou religioso de forma alguma e há muitas coisas que me fazem confusão e me irritam até. E concordo com o que o Paulo disse ali em cima

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  5. Chamo a isso uma mudança radical... apesar de não ter percebido bem a razão dessa mudança, dessa revolta, dessa descrença, nota-se que está algo por resolver...

    Pessoalmente nunca tive grande ligação com a igreja... na minha terra havia (e ainda há) os escuteiros, e apesar de não altura nunca ter estado para ai virada, acho que é uma "vertente" bastante "saudável" se assim posso chamar.

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    1. A razão foi um misto de tudo, de coisas que aconteceram, de não acreditar piamente naquilo que transmitia aos miúdos, o facto de me ter desiludido...

      Por acaso os escuteiros nunca "me chamaram". A parte do campismo e assim não me fascina, mas vi e vejo que é um óptimo local para conhecer pessoas, socializar, aprender coisas novas. Se fosse hoje em dia talvez experimentasse...

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    2. Foi como eu, os acampamentos não me diziam nada...

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